terça-feira, 10 de julho de 2012

TORCIDAS ORGANIZADAS - PAIXÃO E VIOLÊNCIA - ALGUMAS REFLEXÕES


Imaturos, carentes, baixa autoestima, insatisfeitos com o mundo, rebeldes sem causa, sem objetivos na vida, e com necessidades de auto-afirmação. Esse é mais ou menos o perfil dos jovens que saem para se divertir, e envolvem-se em atos de violência e vandalismo. 


Anos 50 - jovens e rebeldes

Nos anos 50 e 60, ao som do rock'and roll, o cinema americano já retratava muito bem essa realidade. Havia gangues de jovens que duelavam com a gangue do bairro vizinho, ou com o time adversário.
O ator americano James Dean, tornou-se um ícone daqueles anos por representar a rebeldia e a transgressão juvenil.



A falta de melhores perspectivas para a vida desses jovens e/ou famílias desestruturadas era, e é um dos motivos de tanta agressividade ou rebeldia.
Atualmente, podemos citar como exemplo, alguns membros das torcidas organizadas dos times de futebol. Geralmente, esses grupos de jovens que envolvem-se em atos de violência, possuem uma condição socioeconômica precária.

Esses cidadãos, não possuem uma vida social interessante, pois as opções de lazer na região onde moram são poucas, ou inexistentes. As condições financeiras não lhes permitem ter acesso a cultura, lazer e a uma educação de qualidade. 

As perspectivas profissionais não são otimistas, já que o ensino de base desses jovens ocorre em escolas públicas, cujo nível de ensino está abaixo do desejável, e como sabemos, saem despreparados para disputar em condições de igualdade a uma vaga no concorrido mercado de trabalho, ou numa universidade conceituada ou gratuita.

Toda essa problemática dos jovens com esse perfil socioeconômico, aliado a violência que infelizmente incorporou-se ao cotidiano das grandes cidades, os deixam prestes a "surtar", pela falta de um norte que aponte para um futuro melhor, e com isso, sentem a necessidade de extravasar essa desesperança de alguma forma. Esse desejo pode ser inconsciente, mais está lá, represado, prestes a vir à tona a qualquer momento, e um dos meios, dentre outros, que encontram para canalizar toda essa insatisfação é o futebol, quando inúmeros torcedores se reúnem para compartilharem do mesmo interesse.

O fato é que esse evento esportivo, gera uma catarse coletiva, funcionando como válvula de escape para as frustrações dessa parcela da população. Trata-se de um esporte popular muito praticado na periferia, basta lembrarmos que grandes ídolos do futebol são provenientes de bairros pobres.
Não podemos simplificar o problema da violência no futebol, atribuindo apenas aos jovens da periferia. Há outros fatores de difícil mensuração que envolve também outras classes sociais, porém, em número bem menor

Imaginem centenas de jovens, com os níveis de testosterona e adrenalina à mil, reunidos para acompanharem um grande clássico de futebol. Juntos numa mesma turma, se sentem mais fortes, ocorre um misto de euforia, com a sensação de que tudo podem.

Sentem-se incluídos socialmente, e que tem um grupo que os acolhe, e assim, a mente coletiva expande-se e se impõe à vontade individual, fazendo aflorar tudo o que é bom, e também, o que é ruim. E é justamente nesse momento de êxtase, que pode ocorrer o start que faltava para a deflagração da violência contra os torcedores do time adversário. É como se de repente os torcedores do outro time fossem os responsáveis pelos problemas e mazelas que os afligem no cotidiano. Assim, aqueles jovens que se sentem vulneráveis, ou marginalizados em suas necessidades socioeconômicas, acabam buscando em torcidas organizadas ou gangues, uma forma perversa de inserção social ou auto-afirmação.



O pior é que muitos desses jovens saem dos estádios com o comportamento alterado, e nas ruas, passam a agir de forma irracional, envolvendo-se em brigas e todo tipo de violência. 
Segundo Mauricio Murad, sociólogo que coordena uma pesquisa sobre o assunto, "de 2010 à 2015, 113 pessoas morreram em brigas relacionadas às torcidas".  A impunidade é um estímulo para a continuidade dessa violência. 

A crueldade e covardia  desse pessoal são tantas, que atacam em grupo até mesmo aquele torcedor que se encontra sozinho, sem chance de defesa. 
Com isso, as partidas de futebol,  que poderiam ser uma ótima opção de lazer, acaba afastando as pessoas dos estádios. 

Brigas e confusões entre alguns jovens sempre ocorreram. O fato é que no passado, essas brigas acarretavam no máximo, pequenas escoriações, porém atualmente, os jovens parecem estar mais violentos e brutalizados. Alguns deles saem dos estádios e de outros eventos de forma irracional, praticando verdadeiros linchamentos, com pedaços de madeira, etc., ou seja, eles partem para a briga determinados a matar. É a banalização da violência.





Luiz Lira
Atuo na área de Recursos Humanos.
Nas horas vagas, gosto de ler, refletir e opinar sobre comportamento, relacionamentos e dilemas do cotidiano. 
Sei que não escrevo textos com maestria, porém, gosto de compartilhar temas que estimulem a reflexão.